1.10.08

O emo é brasileiro - Parte 2


15 de agosto, 1994
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Já tinha um projeto para montar a banda. Listei algumas pessoas para ingressarem, faltava um guitarrista e um baixista. Afinal de contas um power trio tem energia, acabará de ter visto uma fita do The Who, muita força no palco, com certeza o necessário para o “novo estilo”.

Criei os convites e na escola distribui para os pré-selecionados. Dos dez convidados apenas dois aceitaram. Justamente o número que eu precisava: um guitarrista e um baixista. Nem precisei fazer testes. Eles entraram e a banda estava montada.

No mesmo dia minha primeira composição estava pronta, sob o titulo de “Não te esqueço”:

Tudo o que se passa com o coração
Não ira simplesmente acabar

Nos momentos de mais forte emoção
Não se pode esquivar

Essa nuvem cinza
Essa completa negra
Noite
Me faz não ver
Os detalhes de sua
Face

Cada passo que eu do
A cada suspiro
Me lembram seus modos
Cada carro que passa
Cada hora que não volta

Amanhã, juras, só quero vê-la

Amanhã, juras, só espero...

Não conseguia me desligar dessa letra, a primeira composição estava ali registrada no caderninho recém comprado com o troco da padaria. Alias deixei de comprar dois pães pra sobrar exatamente o valor do caderno, minha mãe não compreendeu muito bem, mas ela compreenderá daqui a algum tempo.


16 de agosto, 1994
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Dia nublado, escuro e úmido. Terça- feira perfeita pra ficar em casa, assistir a Sessão da Tarde. Entretanto eu continuaria a saga do rock’n roll. Tinha que escolher um nome, algo que servisse como exemplo para as demais bandas. Nada de idéias chegaram.

Os dois integrantes da banda chegaram no meio da tarde e fizemos uma reunião. O guitarrista se chama Breno, e uma agradável surpresa foi saber o quão bem toca aquela guitarra. Contou que nunca fez aulas, aprendeu sozinho no violão de um tio. É fissurado em Raimundos, toca todas as músicas sem errar nenhuma nota, acompanha o Digão (guitarrista dos Raimundos) em solos belíssimos.

O baixista tem o apelido de Franjinha. É alto, magro e obviamente sustenta uma grande franja que quase lhe cobre os olhos. Também toca muito bem. Fã assumido de Green Day carrega sempre uma fita de Dookie (3º disco da banda, lançado dia 1º de fevereiro de 1994) na mochila, como se fosse uma Bíblia. E ao contrario do que se podia imaginar ele não imitava bem Mike Dirnt (baixista), e sim o Billie Joe (vocal/guitarra). Tinha boa voz e nenhuma vergonha ao cantar. Estava ali o vocalista que eu queria.

Ficamos até tarde da noite conversando e se divertindo. Breno derramou suco ao tentar imitar o Moon Walker de Michael Jackson e fez com que eu e o Franjinha chorássemos de rir. Bastou pra dar um estalo sobre o nome da banda. “Lágrimas!”, eu falei. Os dois acharam meio ridículo. “Então vamos botar em inglês, tears”, disse o Breno. Logo o Franjinha gritou: “My Tears!”.
Genial! A banda chamasse My Tears!

My Tears... one, two… one, two, three, go!

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