Sem brilho. Sem glamour. Apenas mais um na cidade grande. Em um quarto mal arrumado. Roupas jogadas por toda à parte. Sua profissão é tirar fotos. A sua especialidade é casamento. Praticamente uma profissão em extinção, diga-se de passagem.
Dia cinza. O sol molhado e encardido de tanta umidade. Júlio se sente entrosado com dias assim. Praticamente seu reflexo. Sai de casa e vai a rua procurando alguma exclusiva boa para vender a jornais e revistas. Quem sabe algum furo de reportagem. Porém para ele a sorte nunca aparece.
O meio-dia chega rápido. A fome acompanha o relógio. Senta-se no primeiro bar que encontra. E avista na outra mesa seu amigo dos velhos tempos, Carlos!
-Como anda cara?!
-Tentando sobreviver da fotografia. Mas o que mais rende são fotos de casamentos ainda...
-Sério?! Então você vai ter mais um casamento pra fotografar!
-Como? Qual?
-Estou me casando nesse fim de semana com a Marta
-A Marta?!
Essa noticia o atrapalhou mais um pouquinho. Marta foi sua paixão ardente no passado. Aquela situação de vida pela qual esta passando é em grande parte culpa de Marta. Após se separar dela, vendeu apartamento, carro e a alma.
-Então aceita tirar as fotos do casamento?
-Hã..Hã.. Sim sim... com todo o prazer.
-Eu faço questão de lhe pagar bem pelo serviço.
Júlio sai tenso do local. Nem almoçar conseguiu. Ficava imaginando como agir na frente da sua musa. O que aconteceria, queria parar de pensar.
O dia do casamento chegou. Penteou o cabelo bem, colocou seu melhor perfume. As mãos suadas e tremulas o incomodavam. A boca a cada segundo passado secava mais. Fechou a porta e desligou a luz. Direção igreja...
Logo ao chegar na igreja Carlos corre em sua direção. Avisa-lhe sobre um detalhe importante. “Tem que tirar fotos da noiva dentro do carro, chegando aqui”. Mais problemas. Ficar só ao lado de Marta. Loucura.
O dinheiro era bom. Ele precisava e não negou o pedido. Entrou na limusine e foi até a casa dela, para a levar ao casamento.
A porta se abriu. A perna direita, bela e definida, firmou o solo do carro. Em seguida desceu o resto do escultural corpo, até encontrar-se totalmente dentro do veiculo. O coração de Júlio já não batia, pulsava na intensidade de um animador de auditório do Silvio Santos.
Agora é o auge. É esse o momento do êxtase geral. É o instante onde Marta olha pro fotografo. Pela sua face de choque e alegria misturados. A lágrima escorreu e levou a maquiagem vestido abaixo. E o beijo veio ao natural. O beijo veio ao natural e a evolução do beijo foi forçadamente inspirada por anos de angustia.
O casamento foi consumado pelo fotografo. Na limusine. Ou melhor dizendo, o casamento foi consumido, já que deixou de existir. Os dois pediram para o motorista leva-los até uma cidade que ficava a 100km dali.
Júlio continua tirando fotos de casamento. Agora acompanhado de Marta. E o Carlos... bem o Carlos tirou as fotos do casamento do Júlio.
FIM
Um comentário:
Vlw Bruno...pode deixar quando tivermos um som a gente posta no blog...seja sempre bem vindo ao nosso blog.
Vlw!!!
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